Antonio Lavareda
O Cientista Político e Sociólogo Antonio Lavareda tem Política e Economia como pautas.

Resoluções de ano novo

Brasil põe seu banco de desenvolvimento em uma dieta.

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Em 2009, quando o Brasil foi atacado pela crise financeira global, seu presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, estava em alta. A confusão, queixou-se, era culpa de “pessoas brancas de olhos azuis, que antes pareciam saber tudo, e agora demonstram que não sabem nada”. Para ele, a crise era um repúdio ao liberalismo anglo-saxão e uma reivindicação do capitalismo de estado. Como muitos países, o Brasil reduziu as taxas de juros e aumentou os gastos. Ao contrário de muitos outros governos, no entanto, o Brasil usou seu banco estadual de desenvolvimento, o BNDES, para canalizar crédito subsidiado para as maiores empresas do Brasil. Graças aos empréstimos baratos do Tesouro, o banco dobrou seus empréstimos, que atingiram um pico de 4,3% do PIB em 2010. Para a maioria dos empréstimos, as taxas de juros eram metade do nível da Selic, benchmark do banco central.

O plano funcionou, por um tempo. O Brasil emergiu da crise relativamente inatingido: depois de uma pequena recessão em 2009, a economia se recuperou com um crescimento do PIB de 7,5% em 2010. Mas o estímulo ocorreu na recuperação, com um custo crescente para o contribuinte. Entre 2009 e 2016, os subsídios do Tesouro ao BNDES totalizaram 116 bilhões de reais (US $ 48 bilhões). As grandes empresas do Brasil ficaram viciadas em crédito barato. Alguns enfrentaram alegações de que obtiveram os empréstimos fraudulentamente. Uma, uma empresa de embalagem de carne chamada JBS, emprestou 8.100 bilhões de reais do BNDES; Ele passou em uma série de gastos, comprando produtores de carne na América, Austrália e Europa, e tornou-se o maior do mundo de carnes. O BNDES também cresceu. Atualmente, representa 15% do total de empréstimos para o setor privado; seu balanço é tão grande como o Banco Mundial.

Mas os tempos mudaram. O Brasil está emergindo lentamente de sua pior recessão, tendo perdido o status de devedor soberano de investimento em 2015. Suas finanças públicas estão enfraquecidas: no ano passado, registrou um déficit fiscal bruto (isto é, incluindo o serviço da dívida) de 8,9% do PIB. Os subsídios governamentais estão no bloco de corte. O BNDES atualmente presta uma pequena margem sobre o custo de seus fundos do Tesouro – uma taxa chamada TJLP, que é estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, um órgão composto pelo governador do banco central e pelos ministros das finanças e planejamento. Em setembro, o Congresso do Brasil decidiu substituir essa taxa por uma nova, conhecida como TLP, que será fixada mensalmente pelo banco central e indexada a títulos de governo de cinco anos. A nova taxa será introduzida em 1º de janeiro e será implantada gradualmente em cinco anos. Isso poderia salvar o Tesouro do Brasil 0,25% do PIB por ano, prevê Neil Shearing of Capital Economics, uma empresa de pesquisa.

Nem todos estão torcendo. Os clientes do BNDES reclamam que seu custo de capital aumentará, ameaçando empregos. Aumentar a taxa de juros também é susceptível de reduzir a quota de mercado do BNDES e, assim, espremer os lucros, adverte a Moody’s, uma agência de classificação. Mas a reforma foi bem-vinda por pequenas e médias empresas. O banco central do Brasil atualmente é forçado a estabelecer Selic em um nível artificialmente alto para compensar o impacto da taxa subsidiada do BNDES na economia em geral. Ao “tornar todo o crédito na economia sensível ao banco central”, a política monetária se tornará mais efetiva, argumenta Arthur Carvalho, do Morgan Stanley. Portanto, os custos de empréstimos devem cair para empresas muito pequenas para aproveitar o BNDES (o banco atualmente não oferece empréstimos com menos de 20m de reais).

A reforma é um avanço importante nos esforços do governo brasileiro para controlar os gastos públicos e o déficit fiscal. Mas não chega quase longe o suficiente para reduzir o déficit. O sistema de pensões excessivo e inabalável do país custa 13% do PIB. Sem reforma, as despesas públicas em pensões poderiam chegar a um quinto do PIB até 2060, quando o número de mais de 65 anos deverá aumentar de 17m agora para 58m. Espera que uma reforma das pensões possa passar no Congresso foi alta até maio, quando Michel Temer, presidente do Brasil, ficou envolvido em um escândalo de corrupção. Os esforços para reanimá-lo até agora não são nada. Reformar o BNDES está atrasado. Mas levará ainda mais aperto no cinto para colocar o país em uma base financeira firme.

Fonte The Economist

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